sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Esquerda X Direita

Desde o tempo da Revolução Francesa ouve-se falar em direita e esquerda quando o assunto é a arte de conquistar, manter e exercer o poder dentro de um estado. Tal oposição foi ao longo da história acumulando diferentes significados. As transformações de significado foram tamanhas que hodiernamente se põe em questão até mesmo a existência de desta diferenciação entre direita e esquerda.
Num primeiro momento a distinção girava em torno do eixo da igualdade aplicando-se o rótulo "esquerda" às correntes que viam a desigualdade social como inadmissível e "direita" aos apologistas da desigualdade, que viam nesta, inclusive, uma espécie de mola mestra do desenvolvimento.
Subseqüentemente, um novo eixo se implantou ao longo de uma outra dimensão, a da racionalidade econômica, fazendo oposição entre a economia centralmente planificada e o livre jogo das força do mercado.
Com a Revolução Russa e a disposição bipolar de forças no globo, tendo de um lado o bloco socialista em oposição ao ocidente capitalista, toda oposição ao bloco capitalista era percebida como alinhamento potencial ao socialismo. Nessa ótica, constituiu-se o eixo que separa o pólo nacional do pólo imperialista. No limite, qualquer liderança que agisse contra o colonialismo ou contra as formas mais modernas de manifestação dos interesses estrangeiros ingressava no campo da esquerda. Ao redor do mundo, inúmeras foram as alianças anti imperialistas patrocinadas pelos partidos de esquerda.
Um quarto eixo, bastante atual na conjuntura brasileira, divide os partidários do uso do déficit público para fins de promoção de justiça social dos monetaristas defensores do equilíbrio orçamentário.
Cada um destes tradicionais indicadores de diferenças foi perdendo sua validade ao longo do tempo. Com a queda do socialismo real a planificação centralizada de uma economia complexa mostrou-se inviável. A crise do modelo social-democrata trouxe à tona, por sua vez, as limitações do projeto de domesticação do mercado por parte do Estado, nas condições presentes, em um mundo globalizado. O fim do mundo bipolar e a globalização das atividades econômicas alterou completamente a percepção do eixo que opões nação e imperialismo. Numa economia cada vez mais globalizada e interdependente, a competitividade passa a ser variável fundamental e o equilíbrio das contas públicas ganhou outra dimensão: a de indicador da confiança, não apenas dos atores presentes no mercado, mas dos Estados nacionais parceiros em processos de integração. Diante disso questiona-se se ainda há sentido na diferenciação direita X esquerda.
À medida que a perda de significado dos eixos citados progride, resta como diferencial o eixo principal e original, a saber: a igualdade como valor. Para Norberto Bobbio o valor da igualdade distingue a esquerda e a coloca em oposição à direita, esta definida pelo seu apresso à desigualdade.
Para o cientista social alemão Jürgen Habermas a solução social-democrata, o controle do mercado pelo Estado, revelou-se insuficiente. A contraposição neoconservadora, que, por sua vez, pretende o controle do Estado por parte do mercado, também não pode ser satisfatória para aqueles que têm a igualdade como norte. A alternativa passaria então pelo fortalecimento da sociedade civil tanto frente ao Estado quanto frente ao mercado em todas aquelas instâncias regidas idealmente pela solidariedade. Habermas localiza nessas instâncias todas as instituições responsáveis pela transmissão de crenças e valores, pela continuidade da cultura, pela manutenção da integração social e pela socialização das novas gerações.
O debate e o raciocínio em torno do tema e dos significados das expressões ao logo da história são o único modo de, hoje, o cidadão comum poder enxergar onde se encaixa, com qual pensamento se alinha e de que forma pode se organizar a fim de desempenhar o seu papel em prol da igualdade ou da desigualdade.

Por: João Feliciano
Referência: Curso de Doutrinas Políticas Contemporâneas, Instituto Legislativo Brasileiro.

3 comentários:

Brina disse...

Johnny, ainda quero ler um texto seu! ;)
Anyway, boa matéria, acho que direita e esquerda existe desde que o mundo é mundo, se encaixando no contexto de cada tempo.

Kisses ;)

Brina disse...

Pode deitar a cabeça no travesseiro tranquilo que eu agora sei que foi você quem elaborou o texto.
A faculdade de direito enriqueceu seu vocabulário hein Jão?
Falando nisso... nunca imaginei vc advogando... afe! rsrsrs

Unknown disse...

O problema é que hoje tem muita direita na esquerda e vice-versa. Veja o nosso País:
A extrema direita, que era a ditadura militar, no Governo Geisel fez uma série de estatizações que, na teoria, é uma política da esquerda; enquanto os sociais democratas(Fernando Henrique, que já foi do PCB, e companhia) que vêm de uma ideologia esquerdista trataram de privatizar tudo bem ao gosto neoliberal da direita capitalista. Capitalistas esses que segundo o presidente, de esquerda, Lula nunca ganharam tanto como no seu mandato.
Mas, apesar de tudo, ainda existe o Chavez para manter a ideologia esquerdista viva...
Quanto a mim termino o comentário me lembrando de Raul Seixas:
"Eu já não sei mais qual é a de certos cabeludos do tipo estereotipado/ Se são da direita ou da traseira/ eu não sei mais de que lado..."